Desenvolvimento ao longo da infância e da adolescência

Desenvolvimento ao longo da infância e da adolescência

 

    DESENVOLVIMENTO MOTOR

    

    O desenvolvimento fisico dá-se em função da maturação do sistema nervoso.

    A sequência ordenada e previsível  do desenvolvimento motor, dá-se em função da exigência da tarefa, ou seja, a criança pequena aprende em sequência a arrastar-se ,gatinhar e andar por ser uma sequência mais para o mais complexo.

    A sequência ordenada e previsível do desenvolvimento motor dá-se no sentido : céfalo-caudal, proximodistal, e açção concentrada para especifica.

  • Céfalo-Caudal : refere-se á progressão gradual do controlo motor sob a musculação,movendo-se da cabeça em direcção aos pés.

              Periodo pré-natal: primeira forma-se a cabeça, depois os braços e por fim as pernas.

              Periodo neonatal: os bebés controlam na sequência a musculatura da cabeça, pescoço, tronco antes de ganhar controlo sobre as pernas e os pés.

  • Proximodistal: refere-se á progressão gradual do controlo motor sobre a musculatura apartir do centro do corpo para as suas mais distantes.      Em relação ao crescimento : os ombros e o tronco crescem antes dos braços, as quais crescem antes dos dedos dos pés e das mãos.            Em relação à aquisição de habilidades : a criança pequena é capaz de controlar os músculos do tronco e cintura antes dos punhos,mãos e dedos. 

     

    DESENVOLVIMENTO SENSORIAL

        

    As estruturas de recepção dos estimulos formam-se durante o período pré intra-uterino.

        Paz, tranquilidade, silêncio. Acreditamos que, na barriga da mãe, o bebé é dono e senhor de um universo à parte, desconectado do mundo real, em que os estímulos exteriores lhe são distantes e inatingíveis.

        A visão, o paladar, o olfacto, a audição e o tacto constituem os canais que poderiam realizar um intercâmbio entre os dois patamares, porém, durante décadas admitiu-se que os sentidos funcionavam de maneira condicionada no decorrer a fase de gestação, circunscritos pelos factores ambientais e biológicos - num meio ambiente líquido, escudado pela pele, útero e abdómen materno, o que seria capaz o bebé de aferir do mundo lá fora? Alguns sons de escassa nitidez e pouco mais.

        Porém, as investigações efectuadas nesse âmbito indiciam que, pelo contrário, os cinco sentidos estão muito mais despertos do que pensamos. Tratam-se de dados recentes da ciência, que alteram toda a perspectiva da gravidez - se o feto consegue aperceber-se de estímulos positivos, também os negativos o afectam numa amplitude muito maior.

        Os especialistas não têm dúvidas - os sentidos dos bebés funcionam quando ainda se encontram no interior da barriga da mãe e o processo da sua formação é muito mais precoce do que se acreditava há décadas atrás. O feto reconhece os cinco sentidos às vinte e quatro semanas, quatro deles de forma directa (a audição, visão, paladar e olfacto) e um de forma indirecta (o tacto) Mais um motivo para ter este aspecto em consideração no decorrer dos nove meses de gestação.

     

     1.Visão
        Aos 22 dias de gestação surgem dois pequenos sulcos, que darão lugar à estrutura ocular; à nona semana, formam-se as pálpebras, a íris e a retina. Os olhos abrem-se pela primeira vez ao sétimo mês e o bebé consegue distinguir entre o claro e o escuro. A reacção a estímulos como a luz obtém-se ao oitavo mês, dado que a claridade do sol pode atravessar o líquido amniótico, facto que é notado pelo feto - aspecto perceptível através da análise dos batimentos cardíacos, que se alteram com a exposição à luz, e pela observação de um ligeiro franzir dos olhos. Porém, a visão é o sentido menos desenvolvido na altura do nascimento, o que é compreensível - afinal, no interior do útero materno, o bebé não recebe muitos incentivos nesse sentido. Apercebendo-se das sombras e das luzes, será cá fora que o recém-nascido passa a discriminar as formas e as cores.

     

    2.Tacto
        Como o bebé gosta de sentir a mão da mãe a passear pela barriga em movimentos suaves! O tacto começa a formar-se à sétima semana de gestação, facto comprovado pelos movimentos do feto, e, inicialmente, a sensibilidade situa-se na região da boca. É desta maneira que se inaugura um processo crescente, em que este sentido, através do desenvolvimento das células da pele, se alarga ao resto do corpo O resultado é que, a partir do sétimo mês, é comum observarmos o feto a tocar o rosto com as mãos ou a levar o dedo à boca, bem como a brincar com o cordão umbilical e a bater com a mão nas paredes do útero.

     

     3.Paladar
      

      Alimentando-se à base de leite nos primeiros meses de vida, podíamos pensar que não existiriam muitos estímulos que conduzissem este sentido a atingir grande complexidade no decurso do período fetal. Nada de mais errado! As pupilas gustativas evoluem ao terceiro mês de gestação, sendo que se encontram praticadas aperfeiçoadas à décima quarta semana. Ao quarto mês alguns peritos defendem, tendo como base o movimento de engolir e de sucção, que o feto se encontra apto a distinguir os sabores presentes no líquido amniótico, sentindo agrado pelo doce e repulsa pelo amargo - que aumentam e decrescem, respectivamente, o ritmo deste tipo de movimentos. A dieta da mãe é, por isso, alvo de prazer ou desprazer para o feto.

     

     4.Olfacto


        "Cheira-me à minha mãe", poderia o bebé dizer logo na primeira semana de vida - se conseguisse falar, claro - visto que o odor materno é dos primeiros a colocarem em acção o sistema olfactivo. O nariz começa a desenvolver-se a partir da décima semana, contudo é necessário aguardar até ao sexto mês para que os órgãos olfactivos se encontrem plenamente formados. As regiões associadas a este sentido são as primeiras a desenvolver-se no cérebro. E se pensa que o olfacto só é colocado em acção a partir do nascimento, desengane-se. Investigações recentes nesta área indicam que a capacidade olfactiva não é exclusiva de um meio gasoso, mas também líquido, pelo que, mesmo mergulhado em líquido amniótico, o sistema nasal tem capacidade de aceder a diferentes cheiros, presentes na placenta e oriundos, por exemplo, da dieta da mãe.

     

    5.Audição


        Este é o mais desenvolvido e activo dos sentidos, sem lugar para dúvidas, durante a gestação - as vibrações exteriores (seja a voz da mãe ou sons mais agressivos do meio ambiente), bem como os ruídos do organismo materno, alcançam o feto através da pele, das membranas, do útero, do abdómen e do líquido amniótico a partir da décima sexta semana de gestação. Ao sexo mês, já distingue a voz da mãe de entre a panóplia de sons. Diversos estudos comprovam que um som, com a duração de cinco segundos e intensidade elevada, provoca mudanças drásticas no ritmo cardíaco do feto, bem como nos seus movimentos. Se é capaz de responder a estímulos auditivos a partir das dezasseis semanas, às vinte e quatro este sentido é o mais activo dos cinco. Imagine-se dentro de água - apercebe-se de como os sons lhe chegam ligeiramente distorcidos? É da mesma forma que o seu bebé escuta os ruídos do mundo exterior

     
     

    EXPERIÊNCIA PRECOCE

    

    O estímulo precoce, como o próprio nome já diz, tem como objetivo desenvolver e potencializar, através de jogos, exercícios, técnicas, atividades, e de outros recursos, as funções do cérebro do bebê, beneficiando seu lado intelectual, seu físico e sua afetividade. Um bebê bem estimulado aproveitará sua capacidade de aprendizagem e de adaptação ao seu meio, de uma forma mais simples, rápida e intensa. Todos sabemos que os bebês nascem com um grande potencial e que cabe aos pais fazer com que este potencial se desenvolva ao máximo de forma adequada, positiva e divertida.

    Para entender este processo, é necessário que entendamos primeiro, com é o amadurecimento do ser humano. Ao contrário dos animais, os seres humanos somos muito dependentes dos nossos pais desde que nascemos. Demoramos mais para caminhar e dominar nosso ambiente. Tudo depende da aprendizagem que tivermos. Apesar da nossa capacidade estar limitada pela aprendizagem, nossas habilidades estão relacionadas à sobrevivência. Sem o aprendizado, nos convertemos em seres indefesos, sós, e expostos a todo o bem ou mal. Por outro lado, se aprendemos, nosso cérebro adaptável, nos permitirá crescer e sobreviver diante das situações mais adversas. 

    A estimulação precoce o que faz é unir esta adaptabilidade do cérebro à capacidade de aprendizagem, e fazer com que os bebês saudáveis amadureçam e sejam capazes de adaptar-se muito melhor ao seu ambiente e às diferentes situações. Não se trata de uma terapia nem de um método de ensino formal. É apenas uma forma de orientação do potencial e das capacidades dos mais pequenos. Quando se estimula um bebê, está-se abrindo um leque de oportunidades e de experiências que o fará explorar, adquirir destreza e habilidades de uma forma mais natural, e entender o que ocorre ao seu redor.

Quando estimular um bebé :

    Colocar em prática uma estimulação precoce, é uma decisão absolutamente pessoal. Os pais são os que podem decidir se a querem ou não aplicá-la ao cotidiano do seu filho. No entanto, se decidem pelo estímulo precoce, deverão iniciá-lo o mais breve possível, já que, segundo os especialistas, a flexibilidade do cérebro vai diminuindo com a idade. Desde o nascimento até os 3 anos de idade, o desenvolvimento neuronal dos bebês alcança seu nível máximo. A partir dos 3 anos, começará a decrescer até sua total eliminação aos 6 anos de idade, quando já estarão formadas as interconexões neuronais do cérebro do bebê, fazendo com que seus mecanismos de aprendizagem sejam parecidos ao de uma pessoa adulta. É claro que continuarão aprendendo, mas não ao mesmo ritmo e com todo o potencial de antes.

    Todos os bebês experimentarão diferentes etapas de desenvolvimento que podem ser incrementadas com uma estimulação precoce. Para isso, deve-se reconhecer e motivar o potencial de cada criança individualmente, e apresentar-lhe objetivos e atividades adequadas que fortaleçam sua auto-estima, iniciativa e aprendizagem. A estimulação que o bebê recebe nos seus primeiro anos de vida, constituem a base do seu desenvolvimento futuro.

    Além das atividades que se aplicam na estimulação do bebê, é muito importante destacar que o ambiente também é uma ferramenta que devemos considerar. O ambiente não é somente um lugar tranquilo, onde se respira respeito, tolerância, paciência, o acordo e a união, também são as pessoas que acompanham ao pequeno. Se o bebê conta com a companhia de pessoas significativas para ele, como é o caso dos seus pais, eles se sentirão apoiados em seu vínculo afetivo, em suas habilidades e destrezas. A estimulação será mais completa.

Nancy Bayley:

    Bayley descobriu que ao longo do tempo existe uma alteração do quociente na inteligência do individuo,uma vez que está constantemente a novos estimulos do meio ambiente.Portanto os QIs não são constantes.

    Os resultados de Bayley permitiram verificar que a variabilidade dos QIs é maior durante os primeiros anos de vida ( o que pode dever-se á variedade de estímulos que a criança consegue captar).

    Conclui também que a nossa capacidade intelectual pode evoluir até aos 50 anos, o que significa que as capacidades podem aumentar ao longo da vida.Este aumento está relacionado com a interacção sujeito/meio.

Benjamim Bloom:

    Benjamim Bloom definiu o desenvolvimento intelectual através de uma curva de crescimento,cuja leitura trascreve a diminuição do efeito ambiente em relação á criança consoante o aumento de idade.

    Assim Bloom conclui quanto mais nova a criança for a criança, mais irá benificiar de experiências enriquecedoras.

    De acordo com a SPRINTHOL, aos seis anos temos mais de metade da nossa capacidade cognitiva formada e consequentemente o potencial da criança, para o desenvolvimento intelectual começa a abrandar daí que seja importante uma intervenção mais precoce .

    É por isto que Bloom defende a importancia da experiência precoce benéfica no desenvolvimento cognitivo.

Hunt:

Hunt conclui que a privação precoce de estimulos é muito prejudicial para o desenvolvimento motor da criança do que a propria restrição motora precoce uma vez que pode trazer consequências futuras quer a nível motor quer a nível intelectual .

Para Hunt a variedade de estímulos é um ingrediente crucial no crescimento cognitivo. No problema de ajustamento, Hunt aponta a importância de ajustar a quantidade da variedade de estímulos e à posição presente da criança no contínuo crescimento cognitivo.

David Krech 

O estudo de Krech sobre ratos mostra que a estrutura da composição química do Cérbero resulta, em parte, da quantidade e da qualidade da experiencia precoce do organismo. O desenvolvimento fisiológico requer uma estimulação precoce por parte do meio. Os resultados a longo prazo do programa Head Strat só agora começaram a surgir. Num dos estudos, o programa Perry para a pré – escola, as medidas de avaliação dos jovens de 19 anos que tinham sido crianças sujeitas ao programa, foram comparadas com um grupo de controlo de jovens não sujeitos ao programa. Em praticamente quase todas as categorias de medida, o impacto do programa teve efeitos positivos, desde um aumento da capacidade de rendimento académico, até a diminuição da actividade criminal. As conclusões de outros estudos, como o projecto de Milwaukee, criou esperanças, se bem que de forma cautelosa sobre o facto do crescimento intelectual poder ser maximizado através do uso de intervenções educativas inovadoras durante os primeiros anos de vida.

 

     DESENVOLVIMENTO COGNITIVO

     

        Jean Piaget (1896 - 1980) foi biólogo, zoólogo, filósofo, epistemólogo e psicólogo e ficou conhecido pela sua Teoria Cognitiva.

         Na visão de Piaget a aprendizagem concentra a sua base no pensamento. É através dele que a inteligência se manifesta. A inteligência, por sua vez, é um fenómeno biológico, condicionado pela base neurónica do cérebro e do corpo inteiro, e sujeito ao processo de maturação do organismo.

        Através da observação dos seus próprios filhos e de outras crianças, durante as suas brincadeiras e actividades, submetendo-os aos diversos testes, Piaget verificou que o desenvolvimento do pensamento e da linguagem da criança se realiza através de períodos ou fases bem definidas, sendo as seguintes:

     

  • 1º Período – Sensório Motor
  • 2º Período – Pré-Operatório
  • 3º Período – Operatório Concreto
  • 4º Período – Operatório Formal

         

Correspondendo ao período que vai do nascimento até aos 2 anos, esta fase é caracterizada pela conquista, por parte da criança, do meio em que está inserida, através da percepção e dos movimentos. Durante esta fase existem várias características específicas, observáveis na criança:

    1.   A exploração manual e visual do ambiente;
    2.   A experiência obtida com acções, a imitação;
    3.   A inteligência prática (através de acções);
    4.   Acções como agarrar, sugar, atirar, bater e chutar;
    5.   As acções ocorrem antes do pensamento;
    6.   A centralização no próprio corpo;
    7.   A noção de permanência do objecto.

        Este período vai dos 2 aos 7 anos e corresponde à “Primeira Infância”. Durante esta fase, o desenvolvimento da criança tem como base um aspecto muito importante, o aparecimento da linguagem, que irá acarretar modificações nos aspectos intelectual, afectivo e social da criança, a interacção e a comunicação com outros indivíduos.

        Neste período, as características observáveis mais importantes são:

    1.   Inteligência simbólica;
    2.   O pensamento egocêntrico, intuitivo e mágico;
    3.   A centração (apenas um aspecto de determidada situação é considerado);
    4.   A confusão entre aparência e realidade;
    5.   A noção da irreversibilidade;
    6.   O raciocínio transdutivo (aplicação de uma mesma explicação a situações parecidas);
    7.   Animismo (dar vida a seres inanimados).

        Situado entre os 7 e os 11, esta fase é considerada a infância propriamente dita. A criança está pronta para iniciar um processo de aprendizagem  sistemática e começa a lidar  com conceitos  abstractos como números e relacionamentos. Começa, assim, a trabalhar em grupo e a ter autonomia pessoal. As suas características mais marcantes são:

    1.     No  início deste período, o equilíbrio entre a assimilação e a acomodação torna-se mais estável;
    2.    Surge a capacidade de fazer associações e análises lógicas;
    3.    Ultrapassado o egocentrismo, dá-se um aumento da empatia com os sentimentos e as atitudes do outros à sua volta;
    4.    No início deste período a criança já é capaz de compreender a propriedade transitiva (ex: o burro é maior que o gato, a girafa é maior que o burro, então a girafa é também maior que o gato), quando aplicada a objectos concretos que a criança conheça;
    5.    Começa a perceber a conservação do volume, da massa e do comprimento. 
    1.      última fase, começa por volta dos 12 anos e é durante ela que o indivíduo começa a raciocinar lógica e sistematicamente até através do raciocínio abstracto. O adolescente começa a ter capacidade de se abstrair e de generalizar pondo várias coisas em causa. O foco desvia-se do “é” para o “poderia ser” e já é capaz de tirar conclusões de puras hipóteses. O alvo da sua reflexão é a sociedade sempre  analisada com um espírito de  mudança e no campo afectivo vive em conflito. Com o tempo, a sua capacidade impressionante de reflexão espontânea dá lugar à estabilidade que chega com a proximidade da idade adulta.

       

     

 DESENVOLVIMENTO MORAL

 

Segundo Piaget:

     No aspecto moral, segundo Piaget, a criança passa por uma fase pré-moral, caracterizada pela anomia, coincidindo com o egocentrismo infantil e que vai até aproximadamente 4 ou 5 anos. Gradualmente, a criança vai entrando na fase da moral heteronoma e caminha gradualmente para a fase autônoma.

    Piaget afima que essas fases se sucedem sem constituir estágios propriamente ditos. Vamos encontrar adultos em plena fase de anomia e muitos ainda na fase de heteronomia. Poucos conseguem pensar e agir pela sua própria cabeça, seguindo sua consciência interior. 

    Na fase de anomia, natural na criança pequena, ainda no egocentrismo, não existem regras e normas. O bebê, por exemplo, quando está com fome, chora e quer ser alimentado na hora. As necessidades básicas determinam as normas de conduta. No indivíduo adulto, caracteriza-se por aquele que não respeita as leis, pessoas, normas. O indivíduo obedece as normas por medo da punição. Na ausência da autoridade ocorre a desordem, a indisciplina.

    Na medida em que a criança cresce, ela vai percebendo que o "mundo" tem suas regras. Ela descobre isso também nas brincadeiras com as criança maiores, que são úteis para ajudá-la a entrar na fase de heteronomia.

    Na moralidade heretonoma, os deveres são vistos como externos, impostos coercitivamente e não como obrigações elaboradas pela consciência. O Bem é visto como o cumprimento da ordem, o certo é a observância da regra que não pode ser transgredida nem relativizada por interpretações flexíveis. De certa forma, a intolerância da Igreja, por qualquer interpretação diferente da sua, referente ao Evangelho, manteve a humanidade na heteronomia moral. O bem e o certo estavam na Igreja, no Estado e não na consciência interior do indivíduo.

    A responsabilidade pelos actos é avaliada de acordo com as conseqüências objetivas das açcões e não pelas intenções.

    Na moralidade autônoma, o indivíduo adquire a consciência moral. Os deveres são cumpridos com consciência de sua necessidade e significado. Possui princípios éticos e morais. Na ausência da autoridade continua o mesmo. É responsável, auto-disciplinado e justo. A responsabilidade pelos actos é proporcional à intenção e não apenas pelas conseqüências do ato.

    O processo educativo deve conduzir a criança a sair de seu egocentrismo, natural nos primeiros anos, caracterizado pela anomia, e entrar gradualmente na heteronomia, encaminhando-se naturalmente para a sua própria autonomia moral e intelectual que é o objetivo final da educação moral.

    Esse processo de descentração conduz do egocentrismo (natural na criança pequena) caracterizado pela anomia, à autonomia moral e intelectual.

    As actividades de cooperação, num ambiente de respeito mútuo, embasado na afectividade, preservam do egoísmo e do orgulho, auxiliando a criança no longo processo de descentração, conduzindo-a gradativamente da heteronomia para a autonomia moral. Um ambiente de medo, autoritarismo, respeito unilateral tende a perpetuar a heteronomia.

 

Segundo Kohlberg:

    Para KOHLBERG existem seis estágios  no desenvolvimento moral, dividido em três níveis. Lembremos que Piaget estudou somente a vida moral até a adolescência e Kohlberg até o desabrochar pleno da maturidade e da vida moral. Kohlberg não dá muita importância ao comportamento moral externo. Por exemplo um adulto e um adolescente que roubam uma maçã,  o comportamento externo é o mesmo, mas as razões, a moralidade interna, o nível de maturidade moral é diferente nesses casos. Kolhberg baseia a sua classificação no nível de consciência que se tem das regras e normas, das suas razões e motivações, da consciência da sua utilidade e necessidade.

1º NIVEL PRÉ-CONVENCIONAL

    A moralidade da criança é marcada pelas conseqüências de seus atos: punição ou recompensa, elogio ou castigo, e baseia-se no poder físico (de punir ou recompensar) daqueles que estipulam as normas.

    Estágio 1 - O que determina a bondade ou maldade de um ato são as conseqüências físicas do acto (punição). Respeita-se a ordem apenas por medo à punição, e não se tem consciência nenhuma do valor e do significado humano das regras.

    Estágio 2 - A acção justa é aquela que satisfaz as minhas necessidades, a que me gera recompensa e prazer, e, ocasionalmente aos outros. As relações humanas são vistas como trocas comerciais. Mais ou menos assim "Tu me gratificas e eu te gratifico". A pessoa tenta obter recompensas pelas suas acções.
 

2º NÍVEL CONVENCIONAL

    Nesse nível a manutenção das expectativas da família, do grupo, da nação, da sociedade é vista como válida em si mesma e sem muitos questionamentos ou porquês. É uma atitude de conformidade com a ordem social, mas também uma atitude de lealdade e amor á família, ao grupo, ao social.

    Estágio 3 - É bom aquele comportamento que agrada aos outros e por eles é aprovado.´De certa forma, é bom o que é socialmente aceito, aquilo que segue o padrão. O comportamento é muitas vezes julgado com base na intenção, e a intenção torna-se pela primeira vez importante. É a busca do desejo de aprovação familiar e social.

    Estágio 4 - Há o desenvolvimento da noção de dever, de comportamento correto, de cumprir a própria obrigação. Há o desejo de manter a ordem social especificamente pelo desejo de mantê-la, isto é, por que isso é justo.

3º NÍVEL PÓS-CONVENCIONAL

    Há um esforço do indivíduo para definir os valores morais, para definir conscientemente e livremente o que é certo e o que é errado, e porquê... Prescinde-se muitas vezes da autoridade dos grupos e das pessoas que mantém a autoridade sobre os princípios morais.

    Estágio 5 - É a tomada da consciência da existência do outro, da maioria, do bem comum, dos direitos humanos... A ação justa é a acção que leva em conta os direitos gerais do indivíduo, isto é, o bem comum. Valores pessoais são claramente considerados relativos, é a lei da maioria e da utilidade social.

    Estágio 6 - O justo e correcto é definido pela decisão da consciência de acordo com os os princípios éticos escolhidos e baseados na compreensão lógica, universalidade, coerência, solidariedade universal. Guia-se por princípios universais de justiça, de reciprocidade, de igualdade de direitos, de respeito pela dignidade dos seres humanos, por um profundo altruísmo, pela fraternidade. Os padrões próprios de justiça têm mais peso do que  as regras e leis existentes na sociedade.

    Uma conclusão: a moralidade humana e seu desenvolvimento são essencialmente dialécticos. Tanto no modelo de Piaget como no de Kohlberg, a moralidade de um indivíduo depende tanto de fatores psicológicos e biológicos (quem é a pessoa, quem são seus pais, qual sua bagagem genética...), como de elementos sociais e culturais (onde nasceu, em que época, quem são seus vizinhos, amigos, mestres, grau de instrução, condição financeira...). Torna-se claro que diferentes situações sociais, culturais, psicológicas e biológicas irão propiciar diferentes comportamentos, diferentes moralidades.