A Psicanálise

A Psicanálise

PSICANÁLISE

    Psicanálise é um campo clínico e de investigação teórica desenvolvido por Sigmund Freud. Propõe-se à compreensão e análise do homem, compreendido enquanto sujeito do inconsciente. Essencialmente é uma teoria da personalidade e um procedimento de psicoterapia contudo é inquestionável, em nossos dias, suas contribuições para compreensão da ética, moralidade e cultura humana.

 

  • Enquanto teoria: caracteriza-se por um conjunto de conhecimentos sistematizados sobre o funcionamento da vida psíquica. Freud publicou uma obra relatando as suas descobertas e formulando leis gerais sobre o funcionamento da psique.
  • Enquanto método de investigação: caracteriza-se pelo método interpretativo, que busca o significado oculto daquilo que é manifesto através de acções e palavras ou através das produções imaginárias, como os sonhos, os delirios, as associações livres.
  • Enquanto prática profissional: refere-se á forma de tratamento psicológico que visa a cura ou o auto-conhecimento.

 

 

DESCOBERTA DO INCONSCIENTE

    O esquecido era sempre algo penoso para o paciente, e era exactamente por isso que havia sido esquecido. Quando Freud abandonou as perguntas no trabalho terapêutico com os pacientes e os deixa dar livre curso ás suas ideias, observa que, muitas vezes, eles ficavam envergonhados com algumas ideias que lhes ocorriam.

    Desta forma:

  • Resistência: força psíquica que se opunha a revelar um pensamento.
  • Repressão: processo psíquico que visa encobrir, fazer desaparecer da consciência, uma ideia dolorosa que está na origem do sintoma.

 

 

1ª TEORIA SOBRE A ESTRUTURA DO APARELHO PSÍQUICO

    Esta teoria diz a respeito de três sistemas ou instâncias psíquicas: inconsciente, pré-consciente e consciente. Foi a primeira concepção dada por Freud sobre o funcionamento da personalidade.
 

  •  Inconsciente: é o "É o conjunto de conteúdos não presentes no campo atual da consciência. Conteúdos reprimidos que não tem acesso ao pré-consciente/consciente, pela ação de censuras internas, ou seja, o inconsciente tem suas próprias leis de funcionamento.
  • Pré-consciente: é onde estão os conteúdos que a consciência pode acessar, é aquilo que pode estar presente neste momento na consciência e em seguida pode não estar.
  • consciente: é o sistema do aparelho psíquico que recebem as informações do mundo exterior e do mundo interior ao mesmo tempo. Em minha opinião é o "hoje de manhã, hoje à tarde, hoje à noite". É o momento em que percebemos e nos mantemos atentos as coisas ao nosso redor, envolve o nosso raciocínio.
     

 

DESCOBERTA DA SEXUALIDADE INFANTIL

    Freud considerou os desejos da criança como sexuais. Ante a surpresa de seus colegas, que se interrogavam se era possível uma sexualidade infantil, ele respondeu: "O instinto sexual não penetra nas crianças na época da puberdade, como no Evangelho o diabo penetra nos porcos. A criança apresenta, desde a sua idade mais tenra, as manifestações desse instinto; traz em si essas tendências ao vir ao mundo e é desses primeiros germes que sai, no decorrer de uma evolução repleta de vicissitudes e de numerosas fases, a sexualidade, chamada normal, do adulto." 

    A sexualidade, para Freud, não se limita à função dos órgãos genitais e desperta muito cedo, logo após o nascimento. Uma série de excitações e de atividades, presentes desde a infância, proporcionariam um prazer desvinculado de satisfações fisiológicas.
    A denominação sexual foi estendida "às atividades da primeira infância em busca de prazeres locais que este ou aquele órgão é suscetível de proporcionar", designando para a psicanálise um conjunto de atividades sem ligações com os órgãos genitais, não se devendo, portanto, confundir-se o sexual com o genital. Segundo Freud, o instinto sexual da criança seria muito complexo e incluiria diversos elementos, bem como fases específicas (oral, sádico-anal, fálica, período de latência, genital).

    A vida sexual das crianças, naturalmente, é diferente da dos adultos. A função sexual, desde os primórdios até a forma definitiva que nos é tão familiar, passa por um complexo processo de desenvolvimento e organização. A inibição do desenvolvimento da libido, portanto, é que daria origem às neuroses, sendo o inconsciente o lugar de nossos desejos reprimidos.
 

Fases do desenvolvimento sexual:

1.Fase oral (0 aos 18 meses)

  • zona erogénea: boca
  • Conflito: Desmame
  • Instâncias: Id e ego

    Na fase oral, o prazer sexual, predominantemente relacionado à excitação da cavidade oral e dos lábios, está associado à alimentação. Quanto à oralidade, durante os primeiros dezoito meses de vida, a pulsão caracteriza-se por: fonte=zona oral, alvo=incorporação, objeto=aquele da ingestão do alimento. A relação de objeto é organizada em torno da nutrição e colorida por fantasias que adquirem os significados de comer e ser comido (impulsos canibalescos). Portanto, a ênfase recai sobre uma zona erógena (oral) e uma modalidade de relação (incorporação). Karl Abraham sugeriu a fase sádico-oral como uma subdivisão da fase oral, de acordo com as seguintes atividades:

  • sucção -fase oral precoce de sucção pré-ambivalente
  • mordedura - fase sádico-oral concomitante à dentição, quando a incorporação adquire o significado de destruição do objeto devido à ambivalência instintual, ou seja, a coexistência de libido e agressividade, em relação ao mesmo objeto. Mastigar, morder e cuspir são expressões dessa necessidade agressiva inicial, a qual mais tarde pode desempenhar papel relevante nas depressões, adições e perversões.

    Os conflitos orais são expressos através de sintomas como inapetência, vômito, hábito de ranger dentes, inibições da fala. Uma estrutura de caráter oral caracteriza-se por traços tais como a ganância, dependência, intolerância, agitação e curiosidade. A vivência de satisfação, postulada por Freud como a imagem do objeto externo satisfatório (capaz de dar um fim à tensões internas da fome), é responsável pela construção do desejo do sujeito e pela contínua busca do objeto que consiga repetir esta experiência primal.

 

2.Fase Anal (18 meses aos 3 anos)

  • Zona erogénia: mucosa intestinal
  • Instâncias: id e ego 
  • Conflito: ambivalência da dor e ambivalência do prazer

    Acompanhando a maturidade fisiológica para controlar os esfíncteres (2-3 anos de idade), a atenção da criança dirige-se da zona oral para a zona anal. Essa mudança proporciona outros meios de gratificação libidinal (erotismo anal) bem como de expressão da agressividade emergente (sadismo anal). A musculatura é a fonte do sadismo e a membrana da mucosa anal, a fonte da pulsão erótica de natureza anal. A pulsão sádica, cujo objetivo contraditório é (1) destruir o objeto e também, ao dominá-lo, (2) preservá-lo, coincide com a atividade, enquanto que a pulsão erótica-anal relaciona-se com a passividade. A interação entre esses dois componentes instintuais é a seguinte: ao alvo bipolar do sadismo corresponde o funcionamento bifásico (expulsão/retenção) do esfíncter anal e seu respectivo controle. Quanto ao comportamento da criança vis-à-vis o objeto, em "A Predisposição para a Neurose Obssessiva" (1913i) [SE, XII, 321], Freud diz: "Vemos a necessidade de intercalar uma outra fase antes da forma final - fase em que as pulsões parciais estão já reunidas para a escolha de objeto, em que o objeto é já oposto e estranho à própria pessoa, mas em que o primado das zonas genitais não se encontra ainda estabelecido." Karl Abraham sugeriu que a fase sádico-anal fosse sub-dividida em duas fases:

  • primeira fase - o erotismo anal está ligado à evacuação enquanto que a pulsão sádica tem por objetivo a destruição do objeto;
  • segunda fase - o erotismo anal está ligado à retenção e a pulsão sádica ao controle possessivo do objeto.

    Desse modo, as polaridades entre erotismo/sadismo, expulsão/retenção são expressas em conflitos relacionados à ambivalência, atividade/passividade, dominação, separação e individuação. Excesso de ordem, parcimônia e obstinação são traços característicos do caráter anal. Ambivalência, desmazêlo, teimosia e tendências masoquistas representam conflitos oriundos desse período. Vários aspectos da neurose obssessivo-compulsiva sugerem fixação anal. Nesse estágio, os significados simbólicos de dar e recusar, atribuídos à atividade de defecação, são condensados por Freud na equação: fezes=presente=dinheiro

 

3.Fase fálica (3 aos 5/6 anos)

  • Zona erogénica são os genitais
  • Instâncias: id, ego e superego 
  • Conflito: Conflito de Édipo-Electra

    Pela primeira vez, em "A Organização Genital Infantil" (1923), Freud define a fase fálica (3-5 anos de idade), subsequente às fases oral e anal, que são organizações pré-genitais. Essa fase corresponde à unificação das pulsões parciais sob a primazia dos órgãos genitais, sendo uma organização da sexualidade muito próxima àquela do adulto (fase genital). Nos Três Ensaios sobre a Teoria da Sexualidade (1905), Freud compara as fases fálica e genital: "Essa fase, que merece já o nome de genital, onde se encontra um objeto sexual e uma certa convergência das tendências sexuais sobre esse objeto, mas que se diferencia num ponto essencial da organização definitiva por ocasião da maturidade sexual: com efeito, ela apenas conhece uma única espécie de órgão genital, o órgao masculino… Segundo Abraham [1924], seu protótipo biológico é a disposição genital indiferenciada do embrião, idêntica para ambos os sexos." [SE, VII, CDROM] Assim, Freud postula que meninos e meninas, na fase fálica, estão preocupados com as polaridades fálico e castrado e acredita que as crianças não têm nenhum conhecimento da vagina nesse período. A descoberta das diferenças anatômicas entre os sexos (presença ou ausência de pênis) motiva a inveja do pênis nas meninas e a ansiedade de castração nos meninos, pois o complexo de castração centraliza-se na fantasia de que o pênis da menina foi cortado. A principal zona erógena das meninas localiza-se no clitóris que, do ponto-de-vista de Freud, é homólogo à glande (zona genital masculina). Klein, Horney e Jones consideram que a menina tem um conhecimento intuitivo da cavidade vaginal e os conflitos da fase fálica apenas desempenham uma função defensiva em relação às suas ansiedades relacionadas com a feminilidade.

    Durante a fase fálica, a culminância do Complexo de Édipo (que conota a posição da criança numa relação triangular), segue diferentes caminhos para ambos os sexos, no processo de sua dissolução: ameaça de castração (meninos) e o desejo de um bebê como um equivalente simbólico do pênis (meninas).

 

4.Período de latência (5/6 anos aos 11)

  • Zona erogénica são os genitais
  • Instâncias: id, ego e superego 
  • Conflito: Descoberta Sexual ....Homossexualidade e outros papeis sexuais

    O período de latência (6-12 anos de idade) tem sua origem na dissolução do Complexo de Édipo, a qual ocorreu na fase fálica. Em "A Dissolução do Complexo de Édipo" (1924d) Freud diz: "Ainda não se tornou claro, contudo, o que é que ocasiona sua destruição. As análises parecem demonstrar que é a experiência de desapontamentos penosos… Mesmo não ocorrendo nenhum acontecimento especial tal como os que mencionamos como exemplos, a ausência da satisfação esperada, a negação continuada do bebê desejado, devem, ao final, levar o pequeno amante a voltar as costas ao seu anseio sem esperança. Assim, o complexo de Édipo se encaminharia para a destruição por sua falta de sucesso, pelos efeitos de sua impossibilidade interna. Outra visão é a de que o complexo de Édipo deve ruir porque chegou a hora para sua desintegração, tal como os dentes de leite caem quando os permanentes começam a crescer. " [SE, XIX, CDROM] Ainda que este período constitua uma pausa na evolução da sexualidade, este fato não significa necessariamente que a criança não tenha nenhum interesse sexual até chegar à puberdade, mas principalmente que não se desenvolverá nesse período uma nova organização da sexualidade. O surgimento de sentimentos de pudor e repugnância, a identificação com os pais, a intensificação das repressões e o desenvolvimento de sublimações são características do período de latência.

 

5.Fase Genital ( a partir dos 11)

  • Zona erogénica são os genitais
  • Instâncias: id, ego e superego
  • Conflito: Interesse em papeis sociais e sexuais

    Precedida pelo período de latência, a organização genital propriamente dita se instala na puberdade, quando as pulsões parciais estão definitivamente integradas sob a primazia genital específica de cada sexo. É o estágio final do desenvolvimento libidinal instintual. Nos Três Ensaios sobre a Teoria da Sexualidade, Freud esclarece: "A diferença desta última reside apenas em que a concentração das pulsões parciais e sua subordinação ao primado da genitália não são conseguidas na infância, ou só o são de maneira muito incompleta. Assim, o estabelecimento desse primado a serviço da reprodução é a última fase por que passa a organização sexual." [ES, VII, CDROM] Fixações e regressões podem estancar o desenvolvimento libidinal e interferir na primazia genital e no funcionamento genital adequado na vida adulta.

 

 

2ª TEORIA DO APARELHO PSÍQUICO

    São introduzidos novos conceitos aos três sistemas da personalidade: id, ego e superego.

 

  •  id: refere-se ao inconsciente, é regido pelo principio do prazer, da satisfação, nele não há limites, é impulsivo. E é nele que se localizam as pulsões: de vida e a de morte.
  • ego: é ponto de equilíbrio entre o id e o superego, é o chamado "realista", é o que percebe, pensa, sente, lembra, é e sabe dosar as exigências do id e as ordens do superego.
  • superego eu diria que é aquele "CASTRADOR", o que é muitas vezes mal visto. É o que reprime, proibi, impõe limites (autoritário), é aquele que sempre nos faz pensar se "... Isso é errado, não devo fazer. Já aquilo é certo.”; está relacionado com as questões morais e ideais, com as nossas crenças e valores. Contudo penso que há pessoas que sabem lidar muito bem com seu superego bastante atuante, muitos utilizam como uma arma ao seu favor, embora outros não saibam.


 

MECANISMOS DE DEFESA

    Os mecanismos de defesa são os diversos tipos de processos psíquicos, cuja finalidade consiste em afastar um evento gerador de angústia da percepão consciente. Os mecanismos de defesa são funções do Ego e, por definição inconscientes. Os principais mecanismos de defesa são:

  • Repressão: Impede que pensamentos dolorosos ou perigosos cheguem à consciência. É o principal mecanismo de defesa, do qual derivam os demais. Divião ou cisão: Um objeto ou imagem com o qual nos relacionamos pode ser simultaneamente características que despertam nosso amor e o nosso ódio ou temor.
  • Projeção: Quando nos sentimos maus, ou quando um evento doloroso é de nossa responsabilidade, tendemos a projetá-lo no mundo externo, qua ao nosso ver assumirá as características daquilo que não podemos ver em nós. O extremo do funcionamento por mecanismos projetivos é a paranóia, pois a pessoa passa a ver todo mundo como persseguidor.
  • Racionalização: Abstraímo-nos das vivências afetivas e, em cima de premissas lógicas, tentamos justificar nossas atitudes. Com isto tentamos nos provar que somos merecedores do reconhecimento dos outros. A racionalização é um mecanismo típico do neurótico obsessivo.
  • Formação reativa: Caracteriza-se por uma atitude ou um hábito psicológico com sentido oposto ao desejo recalcado. 
  • Identificação: diante de sentimentos de inadequação, o sujeito internaliza características de alguém valorizado, passando a sentir-se como ele. A identificação é um processo necessário no início da vida, quando a criança está assimilando o mundo.
  • Regressão: É voltar a níveis anteriores de desenvolvimento, que em geral se caracteriza por respostas menos maduras, diante de uma frustração evolutiva. Se o adultismo pode provocar frustações, volta a um modelo infantil onde se sentia mais feliz.
  • Isolamento: Consiste em isolarmos um pensamento, atitude ou comportamento, das conexões que teria com o resto da elaboração mental. O comportamento assim isolado passa a não ameaçar, porque está separado e não mais conectado aos desejos iniciais.
  • Deslocamento: Através dele, descarregamos sentimentos acumulados, em geral sentimentos agressivos, em pessoas ou objetos menos perigosos. Todos os sintomas psiconeuróticos acabam tendo a participação do deslocamento. 
  • Sublimação: É considerado o mecanismo de defesa mais evoluído e é característico do indivíduo normal.